quinta-feira, março 27, 2008

Situação do Tibete e da China

O paradoxo do risco que os chineses estão correndo diante da opinião pública internacional, às véspera dos Jogos Olímpicos, é que o Tibete é um país onde há pouquíssima gente, só montanhas e desertos, e praticamente nenhuma riqueza conhecida — a não ser o imenso patrimônio cultural-religioso. É puro imperialismo nacionalista. Os tibetanos são hoje 6 milhões, para um território do tamanho da Europa. Na época da ocupação chinesa, em 1950, eram 5 milhões: os chineses mataram 1,2 milhões, anexaram à China um terço do Tibete e ocuparam o resto, empossando um regime fantoche de comunistas tibetanos. Hoje, o Tibete representa 28% do território chinês, enquanto os tibetanos representam 0,5% da população.
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“Há uma discriminação clara dentro do Tibete: em sua própria terra, os tibetanos são tratados como cidadãos de segunda classe. É uma situação muito negativa, que as autoridades locais endureceram mais ainda nos últimos tempos. Os monastérios são cerceados com restrições crescentes e os monges têm até que passar por uma reeducação política. Pelo que sabemos, através dos tibetanos que se refugiam no exterior, 95% da população tibetana está muito, muito ressentida e magoada”, afirmou há duas semanas o Dalai Lama.

Os tibetanos acompanharam os acontecimentos da revolta no Myanmar no ano passado com uma participação que beirava a identificação: as destemidas iniciativas dos monges budistas birmaneses serviram de choque despertador e depois de exemplo para a parte mais revoltada da sociedade tibetana. Há meses, justamente depois da revolta no Myanmar, a repressão chinesa foi intensificada, com prisões, torturas e deportações de monges fiéis ao Dalai Lama. Qualquer tomada de posição do líder budista, no sentido de um apelo à revolta − ou mesmo só à resistência social − repercutiria para muito além das fronteiras tibetanas, no interior da China, onde a religião tem de novo uma presença muito forte, depois de décadas de quase aniquilação. Mas o próprio Dalai Lama insiste em preferir o caminho da não-violência, tentando tratar com as autoridades chinesas que o desprezam publicamente.


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O perigo imediato é a deslegitimação da autoridade do Dalai Lama − deslegitimação interna mais do que internacional. O resultado poderia ser o nascimento de uma guerrilha urbana tipo Intifada, ou outra inspirada mais nos Talibãs, desfrutando o labirinto de montanhas, vales inacessíveis e cavernas da Himalaia. Uma possibilidade ainda remota, por falta de qualquer apoio internacional, pelo menos por enquanto. Se a crise perdurar, e os tibetanos se mostrarem capazes de sustentar sua rebelião durante alguns meses (digamos, até os Jogos Olímpicos), o apoio (clandestino e secreto) poderia surgir e crescer. Índia, Rússia e Estados Unidos adorariam ver os chineses embrenhados numa custosa e impopular luta anti-guerrilha, como eles próprios enfrentam na Cachemira, na Tchetchenia e no Afeganistão. Seria uma excelente ocasião para observar a força real das forças armadas chinesas. O povo tibetano e seu genocídio cultural são um mero detalhe no brave new world globalizado.




Extraído de Le Monde Diplomatique online

quinta-feira, março 20, 2008

Um vídeo de Piano

quinta-feira, março 06, 2008

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


C.Drummond A.